As Novas Oportunidades e o perigo das generalizações
Relativamente às notícias recentes sobre os Centros Novas Oportunidades “O Governo vai redireccionar a rede de Centros de Novas Oportunidades e parte do seu financiamento para o Ensino Profissional, mantendo apenas alguns destes centros com as actuais funções e com financiamento limitado aos que tiverem melhores notas” passo a fazer alguns comentários:
Alguns pressupostos acerca da Iniciativa Novas Oportunidades:
1- Contempla dois eixos distintos: Jovens (Sistema de aprendizagem, Ensino artístico especializado, curso de educação formação e sobretudo Cursos Profissionais) e Adultos que não concluíram o ensino secundário (percursos de educação e formação ou processos de reconhecimento, validação e certificação de competências);
2- Obtenção de resultados decorrentes da aposta no nível secundário de educação como patamar mínimo de qualificação da população portuguesa
Por outras palavras, as Novas Oportunidades albergam várias respostas para a formação escolar e profissional, sendo os Centros Novas Oportunidades centros de diagnóstico e orientação, porta de entrada para percursos de qualificação e não “locais de certificação”, com o objectivo de certificar rapidamente e sem critérios de qualidade uma população pouco qualificada relativamente aos parceiros europeus.
O Ensino Profissional faz parte da mesma iniciativa e poderá, se não houver a fiscalização correcta, contribuir para o objectivo referido sob o n.º2, com riscos de facilitismo e a mesma “falta de qualidade” de que acusam as iniciativas ligadas aos adultos, só que desta vez apostando nos mais jovens.
Na minha opinião é fundamental separar o “trigo do joio” e lutar pela qualidade em toda a Educação e Formação. Isto implica uma avaliação profunda de todo o sistema de ensino, dos alunos que através do ensino recorrente ingressam em Medicina, de todos os “disléxicos” deste país (com tempo suplementar na realização dos exames nacionais) que integraram ultimamente o mesmo curso, das escolas de referência com reforço nas disciplinas específicas ou ainda a proliferação de Universidades Privadas em que se obtêm diplomas, sem reprovações e com facilidades questionáveis. O mesmo se aplica obviamente aos Centros Novas Oportunidades, devendo existir uma fiscalização apertada da qualidade em detrimento das Metas, objectivos por vezes incompatíveis.
Tendo concluído aos 23 anos uma licenciatura em Direito na faculdade de Direito de Coimbra em 1986, à data olhava com estranheza os colegas trabalhadores estudantes, “velhos” de 30, 40 ou 50 anos, que apenas surgiam nos exames e pediam o apoio dos privilegiados que podiam ser estudantes no tempo e idade certa. Vinte e cinco anos de vida, dezasseis dos quais como professora do ensino Profissional e dois como coordenadora de um Centro Novas Oportunidades, compreendo-os finalmente.
Num País caracterizado por décadas de elevados níveis de iliteracia/ analfabetismo e que nos últimos quarenta anos tenta recuperar o tempo perdido através de um modelo de ensino aprendizagem dominado pelo método expositivo, é complicado fazer compreender e aceitar pela população a filosofia do balanço de competências.
Em 1992 o ensino profissional era encarado como o refúgio dos incapazes. Caracterizado por uma forte componente tecnológica e pela utilização de metodologias mais práticas nas áreas científica e socio-cultural, só tardiamente começou a ser aceite em Portugal, com grande atraso relativamente aos outros países europeus. As notícias recentes parecem alterar o paradigma…
O ritmo de mudança social exige competências cada vez mais vastas e em constante adaptação, como forma de resposta às necessidades de um mercado em mutação. Tendo em conta a contextualização histórica, o balanço de competências surge como resposta à necessidade sentida por alguns países de reconhecer os saberes adquiridos, encurtando os percursos de formação subsequentes e respondendo assim aos maiores níveis de qualificação exigidos por novos empregos, novos desafios.
Num País com baixos níveis de escolarização, elevado número de desempregados, integrado numa União Europeia em que é quase sempre o “último do pelotão” a iniciativa Novas Oportunidades surge como a resposta adequada..
Acima de tudo, quer no eixo Jovens, quer no eixo adultos, o desenvolvimento de um Pais e o aumento da competitividade dependem da aposta no reforço das competências técnicas apoiadas pelas competência relacionais, pela melhoria das competências de literacia e de informática, pela maior disponibilidade para a aprendizagem, pelo aumento da responsabilidade, da confiança e da eficiência. Quando conseguirmos fazer renascer a consciência e o espírito crítico estaremos finalmente no bom caminho!!!
No final de mais uma candidatura, temos o sentimento de “dever cumprido”, da qualidade do trabalho desenvolvido, de realização ao ver candidatos motivados e com vontade de aprender mais
O CNO ACIFF pretende constituir-se, dentro da sua área de intervenção (Nut III Baixo Mondego), porta de entrada para o sistema de Educação e Formação de adultos, permitindo o acesso às várias modalidades a uma população com baixos índices de escolarização/ qualificação.
Tendo em conta a sua natureza empresarial, apostará no aumento da qualificação dos activos das empresas, privilegiando a ligação educação /formação e o mundo do trabalho.
Apostando na aprendizagem, inovação e reconversão profissional reforçará as parcerias com as empresas e outros actores sociais (trabalho em rede).
Não obstante o seu carácter empresarial, assegurará sempre mecanismos de promoção da igualdade do género e da melhoria do acesso ao emprego a outros públicos (nomeadamente os menos favorecidos) contribuindo para a sua integração no mercado de trabalho, procurando garantir-lhes um acompanhamento individualizado, norteado pela necessidade da procura de soluções adequadas às características individuais e à (re)integração no mercado de trabalho.
A toda a equipa que tem permitido concretizar estes objectivos, o meu sincero “Obrigada”
Maria Olímpia Paixão
Coordenadora